Iaiá
O tempo passou,
Mas para ela,
Eu não cresci.
Sou ainda o moleque que joga bola na rua,
Pés descalço,
Apronta na vizinhança,
Quebra vidraças,
Rouba frutas.
Travesso,
Da escola fugia,
Sinto a dor de uma palmada,
Quando ela era chamada na diretoria.
Índole ao avesso,
Na rua,
A raiva crescia,
Não ter acesso ao que o playboy usava,
E a fome?
Novelas de mesa cheia,
E em minha casa,
Nada na geladeira,
E a despensa vazia.
Novas amizades fui colecionando,
E minha mãe por perto,
Sempre preocupada,
“Cuidado menino”,
“Esses não querem nada com a vida”.
Não escutava,
Me apresentaram o trabalho fácil,
Moeda em cascata corria,
Vendi a alma ao diabo,
Ao crime fazia favores,
Quanto mais realizava,
Mais meu nome crescia.
Geladeira cheia,
Tv de led,
Parabólica ostentava,
O barraco da rua de cima,
Todos ali me respeitavam,
Mas a mãe sempre dizia:
“Pede perdão a Deus”,
“Sai dessa vida bandida”,
“Minha morte parece estar encomendada”,
“Morro se for te visitar em uma delegacia “.
Um dia cai na emboscada,
Que a polícia fazia,
Ainda era madrugada,
Senti o calor na espinha,
Cai,
Não lembro de nada,
Sirenes,
Em minha mente invadia.
Acordei,
Com o braço algemado,
Com dois policiais de vigia,
Tentei levantar em um instante,
Porém minhas pernas não sentia,
Meus braços estavam dormentes,
E as minhas mãos,
Não se mexiam.
Logo vi minha mãe aos prantos,
“Meu filho,
Eu bem que dizia,
Nunca escutou tua mãe,
Serviu essa vida bandida”?
Hoje não movo mais nada,
Sofro com a paralisia,
Deixei minha mãe ser condenada,
Pelos crimes que eu cometia,
A pena foi decretada,
Cuide de sua cria.
Amigos,
Mulheres,
Baladas,
É um passado,
Que ainda angústia.
Sobrou apenas a mãe,
Que me chama de filhinho,
Mau posso me mexer,
Para retribuir o carinho,
Não dei valor às palavras,
Retornei ao ninho,
Onde todo dia,
É um novo início.