ANCESTRALIDADE

Conservo, há anos, o gosto de levantar-me com a aurora,

De ver o sol nascer iluminando o mundo,

E ouvir, em silencio, o concerto de bem-te-vis, de pardais, canários, cardeais e outros pássaros,

Que com seu canto ajudam o sol a acordar o dia.

Em profundo silencio e especial ritual,

Aqueço a água, tomo nas mãos a minha cuia

E preparo, com toda a calma o meu chimarrão,

Com o mesmo secular respeito e devoção,

Que os meus ancestrais, sempre, faziam...

E neste silencio, imagino, que meus pais,

Meus avós, meus tetravós,

O mesmo que eu, em diferentes eras,

Nos seus lares hoje taperas,

Saudavam o amanhecer,

cheio de luz que vem do sol,

e cheio de sons que vêm dos pássaros.

E os imagino tomando, após o mate,

Um café com leite e pão de forno,

de farinha de milenares trigais,

e depois saciados e felizes,

saírem para as lidas dos campos e dos varais.

Imagino suas mãos cheias de calos,

Segurando às rédeas dos cavalos,

Ou os braços dos arados,

cortando a terra virgem...!

Os imagino suando o suor do rosto,

Para com seu suor ganharem seu sustento,

E conquistarem sua dignidade.

E nesta manhã cheia de luz

E repleta de sons,

Eu sinto uma enorme alegria,

De ser um lidador....

Que, com suor do meu rosto,

Ganho o meu dia

E construo a minha felicidade,

E me permito me emocionar,

Com o nascer do sol

E com o cantar dos pássaros.

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 11/01/2024
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