ANCESTRALIDADE
Conservo, há anos, o gosto de levantar-me com a aurora,
De ver o sol nascer iluminando o mundo,
E ouvir, em silencio, o concerto de bem-te-vis, de pardais, canários, cardeais e outros pássaros,
Que com seu canto ajudam o sol a acordar o dia.
Em profundo silencio e especial ritual,
Aqueço a água, tomo nas mãos a minha cuia
E preparo, com toda a calma o meu chimarrão,
Com o mesmo secular respeito e devoção,
Que os meus ancestrais, sempre, faziam...
E neste silencio, imagino, que meus pais,
Meus avós, meus tetravós,
O mesmo que eu, em diferentes eras,
Nos seus lares hoje taperas,
Saudavam o amanhecer,
cheio de luz que vem do sol,
e cheio de sons que vêm dos pássaros.
E os imagino tomando, após o mate,
Um café com leite e pão de forno,
de farinha de milenares trigais,
e depois saciados e felizes,
saírem para as lidas dos campos e dos varais.
Imagino suas mãos cheias de calos,
Segurando às rédeas dos cavalos,
Ou os braços dos arados,
cortando a terra virgem...!
Os imagino suando o suor do rosto,
Para com seu suor ganharem seu sustento,
E conquistarem sua dignidade.
E nesta manhã cheia de luz
E repleta de sons,
Eu sinto uma enorme alegria,
De ser um lidador....
Que, com suor do meu rosto,
Ganho o meu dia
E construo a minha felicidade,
E me permito me emocionar,
Com o nascer do sol
E com o cantar dos pássaros.