AMIGOS VELHOS

Como estão velhos os velhos amigos?

As barrigas sustentaram anos de gravatas

e agora nem gaivotas socorrem

os seus apartamentos interioranos.

Vamos beber por isso!

Às barrigas, às calvícies,

à expectativa de vida!

Anos que passarão

apesar de tantas idades que já passamos!

São outras gaivotas,

no mar do afastamento remunerado.

Amigos velhos, usamos óculos.

As letras incomodam o mundo.

querem sumir de tão necessárias que são.

Vamos tentar ler o cardápio.

Estamos em um bar então,

vamos pedir um chopp

até nos embriagarmos

porque voltaremos de táxi para casa.

O garçom nos oferece ostras,

porque velhos amigos exageram nos pedidos.

O bar conhece o exagero

Amigos se reúnem, riem e gastam

Mas na pouca sanidade que ainda nos sobra,

não aceitamos o preço das ostras

e depois falamos bobagens

e rimos de conhecidos e parentes e mulheres.

E a noite passa muito rápido

como os 50 anos que nos juntaram

e que certamente,

durante várias noites,

nos fizeram sofrer por uma ansiedade

que vinha de um medo

de que alguma coisa

mudaria nosso mundo.

Houve situações que mudaram nosso mundo.

Algumas nos fizeram evoluir.

Pensemos assim,

mesmo que um de nós diga:

“O câncer tem causas genéticas!”

“Eu não quero tomar a vacina!”

“O Brasil não tem jeito!”

A maioria de nós aprendeu a dizer:

“Eu posso precisar disso um dia!”

E aprendemos a repetir:

“Mais um chopp, por favor!”

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 06/01/2024
Reeditado em 23/04/2024
Código do texto: T7970484
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