Antes de tudo
Cai,
prenúncio do que
sempre se anuncia em uníssono,
barro avermelhado
entrelaçado ao sangue anêmico
do irmão que esvai diante dos meus olhos.
Tanto olhar...
Se fui altivo e alheio,
atrevido em demasia
para não ser irmão.
Cai,
mas cai em demasia ao redor
de nossos banquetes,
todos os que
aos gritos de quem dá à luz,
têm fome e sede de vida.
Tanta vida...
Se fui insensível e precipitado,
satisfeito no esquecimento a tantos outros
pela soberba da vida que reclamava possuir,
na verdade, sempre sobrevivente,
na mentira, sempre embriagado,
não soube ser o que de mim pedes
de maneira tão docemente simples,
Senhor dos Exércitos.
Cai,
escama que há tanto
se me agarra à vista
e faz de mim outro hipócrita cego,
desses que se regalam no espetáculo
de si próprio,
desses que desconhecem
o Deus da Palavra
por deturpar a Palavra de Deus...
Livra-me dessa lama, meu Deus,
da minha autopiedade imoral,
e que meu último suspiro
seja de dor e alegria
pela última alma
que perdida em agonia
compreendeu, enfim,
que És,
antes de tudo,
AMOR.