Antes de tudo

Cai,

prenúncio do que

sempre se anuncia em uníssono,

barro avermelhado

entrelaçado ao sangue anêmico

do irmão que esvai diante dos meus olhos.

Tanto olhar...

Se fui altivo e alheio,

atrevido em demasia

para não ser irmão.

Cai,

mas cai em demasia ao redor

de nossos banquetes,

todos os que

aos gritos de quem dá à luz,

têm fome e sede de vida.

Tanta vida...

Se fui insensível e precipitado,

satisfeito no esquecimento a tantos outros

pela soberba da vida que reclamava possuir,

na verdade, sempre sobrevivente,

na mentira, sempre embriagado,

não soube ser o que de mim pedes

de maneira tão docemente simples,

Senhor dos Exércitos.

Cai,

escama que há tanto

se me agarra à vista

e faz de mim outro hipócrita cego,

desses que se regalam no espetáculo

de si próprio,

desses que desconhecem

o Deus da Palavra

por deturpar a Palavra de Deus...

Livra-me dessa lama, meu Deus,

da minha autopiedade imoral,

e que meu último suspiro

seja de dor e alegria

pela última alma

que perdida em agonia

compreendeu, enfim,

que És,

antes de tudo,

AMOR.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 04/01/2024
Reeditado em 04/01/2024
Código do texto: T7968909
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