Cala a boca, Ana Luiza.
A panela ardendo
de óleo de Olívia
pimentão
arroz
e cebola.
Temperado
involuntariamente
de lágrimas
e até catarros.
Ela delirava quando chorava...
pois era duro ter que ouvir "Cala a boca, Ana Luiza!"
Tinha que assistir
a televisão
canal
globo
reprise de uma novela qualquer.
Ela sempre anseia
que seja algo
do Manuel Carlos
pois parece muito autêntico aqueles diálogos
beijos
e passeios solares na belíssima Copacabana.
Ela tentava esquecer ...
pois era duro ter que ouvir "Cala a boca, Ana Luiza!"
Ela ficava indiferente
apática
durante
o almoço
de Domingo.
Ele falava aquilo
e outras
cretinices
enquanto
o pessoal não reagia.
Ela queria saber
no fim
se a sua comida
estava
realmente boa.
Se ela
picotou
certinho
bo
ni
ti
nho
e se o tempero estava bom.
Mas, infelizmente, eternamente
só lhe resta um "Cala a boca, Ana Luiza!"
Ela se pergunta
se é tão burra
e estúpida assim
talvez sim,
pois nunca foi de receber muitos elogios.
Ela tem que delirar
esperar
que ele beba uma garrafona de velho barreiro
para que o amor aconteça.
"Ana...
Aninha...
como eu te amo!"
é o que ele costuma dizer
enquanto o seu bafo de pinga beija o seu pescoço moreno.
Ela costuma rir
como uma menininha
e depois a chorar timidamente...
Mas depois, sorridente, ela costuma ignorar
e concordar que ela tem que (de fato) calar a boca.