MEMENTO VITA
Quando chegar o momento,
espero embarcar
com todas as contas pagas.
Se isto não for possível,
que pelo menos
eu viaje sem a carga
de débitos pendentes
para comigo mesmo.
Se mesmo isto
não me for dado,
resta esperar
que o sisudo contador
à porta daquela estação final
leve em conta
as prestações ínfimas
(mas tantas!)
que paguei
ao longo de tantos anos
para custear minha hospedagem
nesta esplêndida morada
que me foi permitido habitar.
(Um dia,
quando outros hóspedes
ocuparem os quartos e salas
que um dia foram meus,
talvez encontrem sinais adormecidos
mas cheios de eloquência,
que lhes dirão
da alegria e gratidão
que senti por ter estado ali).
E quando o contador aferir
todos estes dividendos
e aplicar seu olho clínico
à folha de pagamentos
de minha existência,
ele guardará suas notas
e, sem mais perguntas,
me deixará passar.