O canto dos perdedores
Vozes ao fundo que não soam como ninguém,
Figurinos de porcelana que se movimentam em cadências diversas
Mário José, José Maria, Dona Ana
Faces esgotadas do aceno múltiplo, quase obrigatório.
Mensagens simbólicas que não dizem nada
Que já não foi escutado anteriormente.
Histórias repetidas, bandeiras que representam
Nações inteiras que se ressentem,
Que se detestam,
Mas que carregam consigo uma coleção incrível de máscaras
Que combinam com todo tipo de carapuça.
Um ouvido que se aguça e escuta
Teorias conspiratórias sobre pequenas histórias
Que, a essa altura, seriam apenas rasura
Se não se manifestassem a toda hora.
Quantas vezes
Eu já vi
Exatamente a mesma coisa?
Quantas vezes sofremos
Dos mesmos males
Até que aprendemos
O que os fazem?
Algum dia, na calada da noite
Quando a madrugada espreita
O sonolento incauto,
Quando o timbre desesperadamente alto
Rasgar os véus do silêncio noturno
Talvez, e apenas talvez
A doce fachada da ilusão
Dê espaço
Ao que de fato existe:
Bandeiras enormes, em alto riste
Marchando em uníssono para conquistar
Cada espaço negligenciável da sua mente
Do sentir, ao pensar.
Pesar a mão, de dedos fechados, segurando máscaras,
Carapuças, chicotes
Açoitando a psique desprotegida;
Quem sabe, talvez
Com o abrir das feridas
Você sangre algo
Que não seja falso.
Quando o último riso morrer
E todos forem embora;
Quando a luz se apagar
E chover lá fora;
Quando o mundo acabar
E, acabar assim, sua desforra
Talvez você perceba
Que nem toda batalha
Possuirá vencedores.
Eu não vejo nenhuma vitória
Mas ouço o canto dos perdedores.