A flor que dorme ao insondável esquecimento
Sou eu a flor que dorme à sombra
deste insondável esquecimento.
Aquela que tudo faz
para que sua cor e seu cheiro
sejam levados pelo vento
ou pelas ondas de um sopro de brisa
aos braços quentes do Sol...
Que finge não ver,
finge não sentir
o aroma do riso do amor.
São murmúrios, gritos, melodias
destilados com dor,
são goles e gotas
dedilhados nas cordas
da harpa da vida,
são perfumes
derramados em palavras
para chegar como poema
nas mãos amadas...
E continuamos assim:
o sol lá, fulgurando
sua beleza e calor para as estrelas
e aqui, a bela flor,
grudada à terra,
soprando perfumes
e pétalas ao ar
ou depositando-as
na folhagem das árvores que passam,
mãos estendidas -
secas da fome -
à beira da estrada...
Inspirada em Miguel Otero Silva