Pés que sonham o iluminado de nuvens

Também não sou feita de gavetas

e já joguei fora todas as prateleiras

de meus armários interiores...

Esvaziei-me de mim e nem memória restou

para que eu mesma pudesse conhecer minha história...

Mesmo assim, continuo em busca de meus pra dentro

e meus transbordos diários me provam

que também não caibo mais em mim...

Agora me escondo em cavernas primitivas

que há tempos havia abandonado

pra viver nestes condomínios que nada tem haver comigo.

Meus nós não desato mais...

Os amontoados de trapos

que joguei num canto de minha alma continuam lá,

espalhados pelo chão, fazendo de pedras para os pés

que só sonham o iluminado de nuvens...

O peito rasga e a vastidão de sentimentos

se derrama em palavras desconexas e insanas...