Dois, de dia

O amanhecer agora é pálido, névoa fria

enquanto eu atravessava

a cor escarlate e cinza dessas emoções que me tomam in-teira

um balão perdido num mar revolto

loba, onça, selvagem, mudando o curso dos rios

de água morna e dormente

como o reflorescer

da morte, do luto

da pele quente

do corpo frio

das palavras duras e cortantes

do cio da alma

do lodo e das ondas

de outros caminhos

na nossa terra sagrada, de solo rachado, encharcado

estremeço sozinha

por incontáveis sussurros

de dor e devaneios

enquanto você está em mim

e então, me diz

da vertigem, do céu azul que me leva e trás

de novo, canto uma melodia

de sonhos

desmaio no branco vazio e gelado, acordo num templo que desconhece a delicadeza do tempo e das horas

E então, paraliso, quando toco os pés no chão ou quando sinto o levitar veloz

diante da taça

que agora transborda

ferida, rachada

volto ao avesso

para além desse mundo

das memórias, do toque, da beleza

que desperta, molha e seca

caminho da cura

Outra vez e de novo

redemoinho de sonhos

vertigens de fantasia

e de palavras