Fantasma

Existem amores que não são pra ser.

Como aquele amor de verão que marcou profundamente a sua história,

mas como a estação, passou.

Na verdade, um dia eles foram.

Às vezes dentro de nós ainda permanecem, mesmo com o passar dos anos.

Me parece que eu gosto de cultivar um em específico.

O convidei para sentar e ficar

Tomar um chá da tarde

E estender a sua estadia.

Mesmo que seja apenas a sua sombra,

Se esgueirando pelos cantos como fantasma, surgindo a noite para nos amedrontar.

Aparece quando menos espero,

Quando olho no espelho e vejo sua imagem confundida com a minha.

Quando através da parede o vejo sair e quase tocar em mim.

Quando através das fotos, sinto sua energia,

Sua vida, seu pulsar.

Ainda que seja uma produção fictícia

da minha mente,

Sinto que ainda assim uma parte é minha.

Quando a noite se esvai, ele não está mais lá,

A luz do sol me traz a realidade:

Será que apenas eu carrego este grilhão

Ou de alguma forma esta alma se sente presa

a minha?

Enquanto isso penso: quanta vida tenho perdido

Ansiando a vinda de uma alma penada,

Alguém que para mim já não vive,

mas que ainda vive em mim?

Tais pensamentos atravessam meu ser

como um punhal,

Mas a realidade é que EU tenho sido

A alma presa em uma casa,

Atormentada por um fantasma,

Fruto da minha imaginação.

Nisto, já acabou o dia

E lá vem o pôr-do-sol para que novamente

Ele venha me visitar.