Um dos pedintes, de alguma das ruas, em algum momento, de alguma cidade, por algum motivo.
Um trocado
''Um mísero trocado!''
Era o que se escutava pelas ruas
Por qualquer um que por ali passasse
Por volta da hora do almoço.
Em meio a todo o alvoroço sentava,
De pernas cruzadas e braços esticados para o alto,
Um sujeito magro, com um brado repetido
Conhecido pelos seus insistentes pedidos:
As coisas mais simples
Que poderiam passar por nossas cabeças.
No geral eram por moedas, notas
Alguns dias por objetos ou apostas
E outros tantos pregando sobre as próprias teorias.
Mas nunca, em nenhum dia
Por nenhum pedido, foi atendido
Ou levado em consideração.
E mesmo na árdua labuta
E na constante rejeição
Permanecia no mesmo lugar.
Todos que passavam o viam
Mesmo que muitos fingissem que não.
Havia os que sequer notavam aquela figura
Ostensivamente atirada ao chão,
Mas apenas porque, naquela altura
Já aprenderam a desligar os incentivos do mundo;
Muitos dos que viam apenas registravam a imagem
Muitos outros já se esqueceriam no próximo quarteirão.
Alguns até paravam, escutavam, pensavam
Mas quinze segundos são gratuitos apenas aos vagabundos
E indivíduos como este em repetição.
E sentado, olhando de baixo para cima,
Ele os via todos os dias.
E prestava atenção;
Como todas as outras coisas são mais importantes
Como todas as outras vidas são mais valiosas
Como todos eles são os protagonistas
Até mesmo de sua própria existência.
Como sua voz não existisse
Ou como se não valesse a paciência
Nem pedia muito, e sabia
Apenas as coisas mais simples
Que passavam pela sua cabeça.
Pois não precisava de muito, nem mesmo queria
Bastava um trocado, ou um afago
Bastava apenas uma fagulha de tempo,
Uma lasca de temperamento,
Um punhado de compreensão.
Não precisava que fossem inteiros,
Ou sequer que fossem unidos.
Para quem não tem nada,
Ter apenas um,
Já equivale ao infinito.