A PENÚLTIMA PASSAGEIRA
A PENÚLTIMA PASSAGEIRA
(Dux Pellegrino/Gerson Zequim, 2023)
A anciã divaga a mente varrendo o terreiro
Visualiza ao longe a silhueta do barqueiro
Operando a tenebrosa nau, a figura do terror
O poente embrasado projeta a imagem do condutor
Que rema a montaria em voga lenta e decidida
Ele vem buscar outro de nós, uma vida bem vivida
É o mensageiro da morte que vagueia nos ares
Pairando sobre os lares, praças, campos e bares
A afiada foice reluz ao ceifar o sopro vital
Quando a jornada zera o contador temporal
Do Estige distante milhares de léguas em lonjura
Não impede o barqueiro de cumprir sua jura
No vilarejo ele singra as águas rasas do Arareau
Que evapora na foz no gigante Poguba sem vau
Meio século depois que a anciã ali se assentou
Trinta e nove de quarenta pioneiros o barco levou
Na vila bucólica entre a curva do rio e a rodovia
No povoado onde a então jovem alegre sorria
Só ela, somente ela ficou, solamente ela restou.
“relatos de uma velha senhora ao tomar conhecimento que a penúltima pioneira do seu grupo havia falecido”