Ouça, Doutor
Não sei se é poesia
O poema que trago
É mais um sussurro vago
Uma voz fantasmagórica
Sendo minha companhia
Naqueles dias caleidoscópicos
De ansiedade
Ânsia
Sim, na verdade, um expurgo
Transbordamento
Cântaro que encheu de mágoa
Ninguém percebeu
Não sei se é poesia
Por tantas vezes cancelei
Rasguei
Nunca existiram
Foram embora
Voltaram
Mas sempre sem regras
Com dores do que viram
Companheiras testemunhas
De simplesmente tudo
Anotaram tudo com cuidado
Estudaram meu caso
E o poeta islâmico
Que anda sempre atrás de mim
E manifesta a cada rompimento
Das águas paradas do meu medo
Então, lhe digo,
Não tem poética
Nem livro ou página
Homenagens ou debates
Não sei se é poesia
Talvez apenas alma gritando
Porta estreita para um corpo grande
Lembrança, memória, algum lugar
Algo sem nome
A vagar
A vagar