Ouça, Doutor

Não sei se é poesia

O poema que trago

É mais um sussurro vago

Uma voz fantasmagórica

Sendo minha companhia

Naqueles dias caleidoscópicos

De ansiedade

Ânsia

Sim, na verdade, um expurgo

Transbordamento

Cântaro que encheu de mágoa

Ninguém percebeu

Não sei se é poesia

Por tantas vezes cancelei

Rasguei

Nunca existiram

Foram embora

Voltaram

Mas sempre sem regras

Com dores do que viram

Companheiras testemunhas

De simplesmente tudo

Anotaram tudo com cuidado

Estudaram meu caso

E o poeta islâmico

Que anda sempre atrás de mim

E manifesta a cada rompimento

Das águas paradas do meu medo

Então, lhe digo,

Não tem poética

Nem livro ou página

Homenagens ou debates

Não sei se é poesia

Talvez apenas alma gritando

Porta estreita para um corpo grande

Lembrança, memória, algum lugar

Algo sem nome

A vagar

A vagar

Yara do Vento
Enviado por Yara do Vento em 18/11/2023
Reeditado em 02/01/2024
Código do texto: T7934655
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