Venho de uma terra estranha para me habitar.

Falo em sussurros, cochichos - só pra não me escutar.

Se quero caminhar pra frente – me mandam andar pra trás.

Quando penso que cheguei a algum lugar – na verdade -

ancorei meu barco de ilusões em lugar nenhum.

 

Sou estrangeira em mim.

Tenho filas de pecados que são a leveza de minha alma.

Chamo pecados porque foi o que me contaram.

Que estava pecando. Que estava pecando a favor de mim

e de quem me ensinou a pecar e contra os quais -

segundo quem me ensinou... - nunca devo pecar.

 

Recanto meus sentimentos porque

nem sei mais o que fazer com eles.

Estão em mim e precisam sair.

Por isso os expurgo assim - o que dizer?

- Nada. A voz calou-se em mim.

Só ouço a rouquidão do choro que ficou em seu lugar.

 

Eu tinha decidido morrer. Até já tinha planejado

derrubar paredes e telhados outra vez...

Selei portas e janelas e coloquei uma plaquinha

no muro em frente de casa:

- Abandonada!

Assim os ratos e baratas poderiam pensar em não entrar.

Afinal, uma casa abandonada de que serve?

Somente Marias conseguem viver lá.

 

Mas eu tinha decidido morrer.

E fui mesmo morrendo aos poucos.

Cada dia um pedacinho. Cada dia um dia.

Cada hora uma hora, cada minuto um minuto.

 

Para ter onde depositar o corpo inerte,

refiz outra vez meu cantinho de reflexão.

Bem, bem escondidinho.

Ninguém nem sabe onde está.

Mas, cada vez que ia lá espiar,

as lágrimas desciam quentes.

Eu chorava minha própria ausência

e a do sol em minha vida...

 

Essa ausência eu vi, enquanto olhava e chorava.

E eu chorava porque pensava que ninguém,

ninguém mais me acharia dentro da

minha escuridão...

 

Então eu silenciaria... pegaria minhas malas

e partiria calada para lugar nenhum...

No meu silêncio debaixo das pontes...

ninguém saberia que uma flor havia partido.

Assim... nenhuma lágrima por minha ausência

alguém iria derramar.

E foi então... então... que o sol nasceu !

 

(2007)