Êxtase
Ando pelas mesmas velhas ruas
Aprecio as surdas melodias
Olho para o alto
Pessoas em suas sacadas
Baixo o olhar
Miro os limites das pequenitudes
Esbarro num desconhecido
Que sorri afetuoso
Ganho um bom dia
E um sorriso
De um senhor amável
Respiro os cheiros
Do centro da cidade
Em sua rotina de formigueiro
Zonza no burburinho cantante
Passeio como um cão
Livre da coleira
Sem dono
Sem pressa
Farejo os passantes
Tão ocupados
Tão apressados
Tão sozinhos de si
Guardo nas retinas
O belo azul
Da abóboda celeste
Guardo nas narinas
Os perfumes da primavera
Em flores viçosas
Preguiçosas no seu tempo
Também serenas
Plenas, tenras
Efêmeras e eternas
Porque sabem seu lugar
Estão onde devem estar
E o tempo é relativo
Meu relógio parado
Meu peito exaltado
E sou agora um ser extraviado extasiado.