Um Recado dos Vovôs
Hoje fui ao asilo
(pelo carinho
que guardo com eles –
ou para eles,
digo a minha guria
que vamos ao “lar dos vovôs”).
Não vi rostos não vi rugas lá
muito menos mãos ressecadas,
olhando fundo em olhos cansados
o quanto pude sustentar o olhar
presenciei sede de afeto,
senti doendo em mim
muitas fomes de carinhos
ouvi as súplicas silenciosas
embora ruidosas
implorando atenção,
tudo isto sendo expulso
de um coração
que não sei como
sobrevivia
à miséria do abandono.
E era agosto, no segundo dia,
Adélio aproximou-se
e anunciou seu aniversário
com alegria, talvez
e compartilhei:
“aniversario em 31 próximo
contrariamente aos desejos
de meu avô
que me queria
a qualquer custo
para a semana da pátria”.
Alguns sempre
não me reconheciam
outros ao menos
me cumprimentavam,
seguiam conversas repetidas
interesses perdidos
familiares desencontrados
e
dos dois lados do muro
um buraco enorme de carência.