Eu era
Eu era aquele que viajava o mundo,
estava em todos os lugares,
ria, comia, conversava e beijava.
Eu me envolvia nas conversas,
adorava uma prosa,
e na minha mala, além das memórias, existia presença.
Buscava sempre uma aventura,
gostava de correr risco e me jogar,
com marcas das experiências nos pés e no corpo.
Era aquele que não sabia andar, porque sempre voava,
cantarolava em meio a rodas de trovadores,
corria e rolava no jardim debaixo de um temporal,
subia em árvores, tropeçava e ria de mim mesmo.
Nos vestígios que deixava, podia-se ouvir os risos e as incertezas,
disputava corrida e deixava o outro ganhar,
bebia água e aproveitava para se molhar.
Mas agora, ainda sou aquele,
que vê através de uma janela essas lembranças,
que se deparou com o inesperado que o trancou em uma redoma.
Revivo as experiências e malandragens,
atrás de uma parede com apenas uma abertura,
assistindo o mundo rodar sem pessoas.
Agora sou aquele que ficou apenas com o desejo de voar,
contentando-me em casa ficar.