Pedra Rolante Blues
Nas águas barrentas do rio,
Tudo está em constante fluir.
Em teu movimentar nada perdura,
Em eterno fluxo, tudo está em mudanças.
O belo nascer do sol torna-se dúbio eclipse.
As palavras não conseguem capturar o mundo.
O banquete dos canalhas é o cardápio do dia.
E quando percebe faz parte de indigesto menu.
Apesar desse finito mundo diverso,
Dos insalubres líquidos lamentados em blues,
Chorados nas cordas de Muddy Waters,
Desejo movimentar e não ficar parado
Nas águas, nada de musgo.
Na intensa correnteza em que tudo passa,
Não desejo ser levado passivamente.
Desejo ser pedra rolante
Que contém em si toda a fagulha:
Boxeador que após queda não cessa batalha,
Cair e reerguer no ciclo que permeia.
Mapeando distâncias e contabilizando cicatrizes,
Mas nunca perdendo a estrada que
Me leva nesse mar de água doce.
Enquanto cuspes emporcalham a testa,
A persistência na teimosia, o apego a razão
Que equilibra, a revolta como resistência
E enfrentamento para mudar o curso das águas.
E a busca do amor como fração de tudo que humaniza.