Cio da água
Galopa a corrente
Sórdida, revolta, indiferente
Sangra, demente, até o chão dos sentimentos
Fúria incontida vestida de ventos.
No desbravar de terras e mentes
Tudo arrasta - a traiçoeira - leva em frente
Em estrondos ruge faminta
Engole gente.
Rios em tormenta
Lábios de barro
Corpo de serpente. Escárnio...
Por onde passa - na sanha - devasta
Sibila cantilenas estranhas
No batismo pagão que afoga
Propagas teus sentidos em galhofas...
Sem querer partir, represa e invade
Correnteza em desalinho de frieza covarde.
Escárnio...
Vai ceifando a vida, a terra semeada
Deslumbrada, tal torrente desafina
Engole o que se põe no caminho... estradas
Não saciada, arrebata a flor recém-nascida
Faminta, boca escancarada
Volta pro leito....
Tenta dormir, água de tormento
Te compadece
Volta pro leito...