A consciência do enigma

Não sou de decifrar enigmas, mas de cria-los dentro d'alma

e deles tecer os dias em perguntas que jamais se calam.

Trazer consigo a consciência do enigma

é carregar a certeza de que nem tudo é decifrável

e está tudo bem, posto que não precisamos

de tudo saber, compreender, mas de aceitar e viver,

mesmo a insatisfação pelo não de tudo saber. 

Como bem diz o filósofo "o concebível é apenas

uma pequena zona do desconhecido, que se comunica

de forma inverificável, e desconhecida, com o desconhecido" (Morin).

É essa insatisfação que leva a reflexão que deve se manter viva.

É ela que faz o movimento que invoca um além,

que transcende o real, que busca o imaginário,

que sustenta a pergunta que questiona impulsiona

o todo das perguntas sem respostas.

Ou, nas palavras do filósofo, é a insatisfação, é a busca da superação

"o que impulsiona, invoca o pensamento, a dialética, o amor, a história,

todos mais fortes que o gozo, a plenitude, a satisfação" (Morin),

é o sentimento de não satisfação, de não acomodação

o que nos mantém sempre em busca,

sempre procurando o desconhecido, o enigma a decifrar,

o que nos permite ter sempre esse olhar

de estranheza e espanto diante da vida e do momento vivido. 

São as perguntas e não as respostas

que nos mantém sempre a vida refletir, a pensar...