Do Caminho da Cruz

 

Conheço o caminho da cruz.

Sei de suas trilhas,

ando por elas

nas ondas dos olhos do tempo.

 

Cruz das Almas ainda não vi,

nenhuma face sequer.

Mas já andei por lá,

num túnel de escuridão

que aos poucos

foi se transformando em luz.

 

Não vejo mais os olhos amarelados

dessas areias perdidas.

Choro a cada vez que vejo estampada

a dedicatória na parede.

É como se cravam facas

num coração que só sabe amar.

Nega-se o sentimento,

zera-se o tempo que nunca chega,

nunca é, jamais será...

 

e não se acredita, nela não.

Só nos homens que sentem

e são privilegiados

porque só a dor deles importa.

 

Flores caem pétalas num jardim alheio

por falta de terra pra pousar.

E brinca-se de criança com criança,

de amores sem flores também,

embrenha-se por sem trilhas cantando o canto,

por caminhos sem nós dois...

 

enquanto o poeta roça o rosto

na face morena  de apliques

e argolas ao redor do pescoço

puxa a boina e vai lá,

"passar por toda essa vida

sem ser ao menos funil de água doce"... 

 

E fica a flor na janela

a olhar a música tocar...

solitária flor,

olhos de coração - a desaguar...