Venda dos Olhos

Nem sempre

é possível encurtar

a distância

da porta de casa

às calçadas.

Faltam braços

que acolham,

falta braços.

Ou existem,

mas se encontram

amordaçados

pela venda dos olhos.

E fica o descuido,

o abandono

enquanto o mar

segue jogando ondas

que se espatifam

contra os rochedos...

Ou a vida vai...

pulsando a dor

em pequenos barcos

que navegam

apinhados de sonhos,

e frágeis, tão frágeis...

afundam no mar insano.

Não sei, não sei...

Não sei se ainda há olhos...

se ainda há braços...

Onde o laço

que abraça?

Onde?

Talvez existe,

mas se encontra

amordaçado

pela venda dos olhos.

À Poetisa Rose Rocha

(em memória)