Renascimento

Sabemos das diferenças, das intenções

Pleno conhecimento da distância entre dois corpos

E o espaço vago que se ocupa conforme o tempo passa.

Dessa corda que amarra e arrasta

Uma singela diferenciação

Transformando silêncio em confusão,

Transbordando um copo que até pouco era vazio.

Um escárnio, um retalho; dois feridos

Muitas pausas entre uma rotina e outra.

A sensação de derrota que amarga nossa boca

E outras analogias para destempero.

Vindas de mim, todas, enfim,

Se amontanham numa criatura que se parece comigo.

Que carrega minha voz, meus trejeitos,

Minhas opiniões e desacertos,

Descarregando com as próprias mãos toda a carga

Que vive positiva e negativa, simultaneamente,

Entre nós, aqui, com a gente

E quem mais se preocupar em observar.

Que já atravessou multidões

Que já deu fim em muitos corações

Que sente-se muito maior do que realmente é.

Mas que cresce, fica forte e estabelece

O que deve ser feito, todo dia

Em que permanece no comando.

Do outro lado eu vou ficando;

Vendo o que a coleira em minhas mãos não prende mais.

Assistindo, de canto, meu desmando

E todas as palavras que caem como pedra conforme vou falando;

Ordens que eu não consigo aplicar.

De mãos livres, porém atadas

Pela linha imaginária que sai

Do meu mais profundo ostracismo

Que cai, lentamente, em todos os abismos

Que aparecem em meu caminho.

E mesmo assim, ainda penso

Enquanto vou caindo

Que bater os braços é o melhor que consigo fazer.

E se isto não adiantou, nada mais adiantaria

Que meu melhor beira a inexistência; e fico grato

Por sequer existir alguma miséria

Que tentaria me segurar.

Mas não se engane:

Neste contorno afundado no chão

Onde jaz o resultado de tantas quedas

Sairão frutos dos meus restos

Que servirão como alimento para um novo eu.

Que busca sustento em pequenos atos

E em grandes erros;

Que pende alcançar a saída, tardia; e parece cada vez mais perto

Mas ainda longe suficiente para não alcançar.

Que olha para as estrelas

E almeja apenas meia distância

Pois seu intuito não é voar.

Deseja apenas o comum, o normal

O humano

O que qualquer um viria a esperar,

De alguém semelhante, com os mesmos membros

Dois olhos, um nariz e uma boca para falar

Coisas normais, sem motivos sarcásticos

Contornos ácidos ou ideias irracionais

Apenas mais um, comum

Pairando pelos humanos

Piorando lugar nenhum.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 31/08/2023
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