Sementes de Ancestralidade
A ingenuidade da flor em dançar ao vento
enquanto este leva suas pétalas para longe
é compreender os caminhos da vida e a forma
como ela a si mesma se entrega
ao momento da criação, da morte e do renascer.
Uma flor só renasce porque morre pétala seca caída ao chão.
Sua nudez em meio ao deserto pode ser vista pelas estrelas
e não importa se a condenam por se deixar despetalar
ou se a admiram por ter coragem para se desnudar.
Importa que ela escolhe o momento e como quer sua vida viver.
A nudez da alma é tão preciosa, é tão surpreendente
que a própria flor se espanta, estranha a força
que brota a cada pétala, que cai gotejando
uma letra, um poema, uma Poesia que a ela acolhe e a torna ser.
Também perdi o encanto e a proteção ao longo de minha jornada,
mas não me desfiz, não me deixei morrer.
Guardei minhas sementes e as garlei ao vento
para que voassem em meio à tempestade.
Também me encontro desnuda para andarilhos e passantes.
Sem medo, silencio quando as pedras são jogadas.
Sou navegante que não pertencia a lugar algum
e um dia, em meio as flores de um jardim,
reconheceu a divindade da alma em seu Espelho,
e nele se aninhou para tornarem-se um.
É assim que a alma sedenta aplaca a sede e a fome de palavras
que expressem a dor de descobrir sentimentos.
É assim que o universo nos permite sobreviver
e nos leva por entre as miragens confundindo-nos às pegadas
para que a morte não nos encontre
antes de descobrirmos que somos a própria miragem
que se ergue oásis em meio ao deserto inóspito
e nos ensina que podemos voar no movimento das duas
com nossas asas de águias que já aprenderam abrir suas asas
por cima do medo, por cima da paisagem que se repete nos confundindo,
para que possamos visualizar as pegadas
que nossos ancestrais deixaram nas areias
e por elas seguir navegantes do céu
em busca de nossa morada de eternidade.
Voe!
Eu estou voando!