Parida, de partida

Enquanto te trago em mim

Pedaço

Boca

Cheiro, peito, calor

Sinto cada pequeno corte desse cordão de sangue

que nos alimenta

Agora te vejo crescer de longe

Entre espinhos, nossas terras férteis e a tua luz que explode com toda a tua intensidade

Que escapa por frestas, como os raios brilhantes da lua crescente entre as folhas dos nossos coqueiros

Disritmista, como vida e alma de uma artista ou de uma gata parida

O topo da montanha, a casa na lama, indo lavar a alma e a as sombras na varanda

Parto daqui.

Tanto quanto parti quando pari

Busco o alimento que também te alimenta: o céu inteiro, de flores, de espinhos verdes, secos

desses que nos ensinam a lidar com as veias abertas, que sangram de dor e de amor

Esperançando o despertar, afinal

Esses mesmos espinhos, de uma rosa escarlate, que cortam, escapam aos olhos, à boca, nariz, língua e teus pelos

Jorram como cachoeiras de palavras sem lágrimas

De fel, de dentro

Rasgam o véu, trazem o mel e a essência desse nosso céu.