Percalços

Perdi a identidade,

Não sei mais quem sou,

Um número?

Indigente social,

Não me enquadro,

No novo contexto humano.

O "eu" primata,

Agindo por instinto,

É o que em mim restou.

Regras de comportamento,

Padrões sociais,

Rotinas,

Para manter o inexistente coletivo.

Criam outra narrativa,

Distorção de toda história,

Sociedade de proteção aos lobos,

Querem a extinção,

De todo e qualquer indivíduo.

Criamos rótulos,

Bulas,

Razões,

Nos ajustamos,

À base de comprimidos.

Erguemos as próprias prisões,

E escondemos o que somos,

Para permanecermos vivos.

Quero voltar a ter medo do escuro,

Sentir a proteção de um abraço de mãe,

Criar meus próprios monstros,

Correr com pés descalços,

E que os percalços,

Sejam alguma pedra esquecida,

Cercas de espinhos,

Uma bola que parou no telhado de algum vizinho.

Quero a liberdade de escolher minhas próprias brincadeiras,

Quero o vai e vem da rede,

O balançar de uma cadeira.

Quero a manteiga derretida em um pão quentinho,

A felicidade de ir a praia,

Construir castelos,

Para um rei,

Que vaga sem destino.

Não quero o peso do tempo,

Me deixem sentir o vento,

Despertar em mim a criança,

Que anda adormecida,

Sonhando com a esperança.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 17/08/2023
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