A CHUVA, A ENCHENTE E O RIO
“Depois da tempestade vem a enchente”
Autor anônimo
Sigo com a chuva
pela rua abaixo
Acho que vou parar
nas entranhas da cidade
As pessoas correm
os carros fogem
em velocidade
O degrau sob a marquise
virou ilha, virou reprise
do verão passado
Ali não nado
me refugio na esquina
que virou sina
que virou curva de rio
A chuva caiu de repente
sem tempo pra recado
A enchente pegou
todo o tipo de gente
Quem sai do mercado
quem desce do ônibus
quem já vive precariamente
embaixo do viaduto
A chuva não avisa
quem já perdeu quase tudo
arrastado
pela correnteza da vida
Tudo passa
diante do meu olhar
tênis, saco de lixo, papelão
sofá, televisão, lembranças
e a esperança que se esgota
pelo esgoto
ao meio fio
desplugada
Enquanto a noite desce
indiferente e calada
nada acontece
até que o rio sobe a calçada
Então eu rio
da minha situação
não me desespero
enquanto espero
com calma
a enchente inundar
os subterrâneos da minha alma...
Claudio lima
“A adiada enchente”
Velho, não
entardecido, talvez
antigo, sim
Me tornei antigo
Porque a vida
tantas vezes se demorou
e eu esperei
como um rio que aguarda a cheia
Gravidez de fúrias e cegueiras
os bichos perdendo o pé
eu perdendo as palavras
Simples espera
daquilo que não se conhece
e, quando se conhece
não se sabe o nome
Mia Couto
Antônio Emilio Leite Couto,
é escritor e biólogo moçambicano
Nascido em Beira, Moçambique
em 1955
“Foi um rio que passou em minha vida
e meu coração se deixou levar ...”
Paulinho da Viola
Paulo Cesar Batista de Faria, é violonista,
cavaquinista, bandolinista, cantor e
compositor de samba e choro brasileiro.
É um dos baluartes da Escola de Samba
Portela. Nascido em 1942 no Rio de Janeiro