Sísifo Mais Uma Desce a Montanha
Dia encerrado, Sísifo está de pé
Refletindo sobre a aniquilação de
Seu esforço físico e bom humor:
O sangue trucidado no trabalho,
Os neurônios atormentados
Com as contas bancárias,
Trânsito ensurdercedor,
Desmandos de poderes que afetam
O atendimento das necessidades,
Desejos apequenados
Nos inconvenientes da saúde,
O corpo dá sinais de fraqueza.
Sem tempo para familiares,
As ficções das conversas alheias
Foram à contragosto suportadas,
Os estranhos ao redor sufocam o viver,
As vísceras, amolecidas nos papéis sociais.
Assinar o atestado para a aceitação
De todos os problemas?
Mesmo no universo sem dono,
Preenchido de absurdos,
Rochas rolando para baixo,
As costas cansadas dos fardos,
No alto da montanha, entre névoas mil,
Sísifo persiste, acredita que a luta é suficiente
Para fazer do amanhã um dia melhor.
Agora no pé do penhasco dialogando
Com a caveira (a morte) e adiando sua sentença,
Observando os cadáveres jogados no chão,
O lutador grego mexe os dados e ajeita
O rochedo em seu corpo para enfrentar o hoje:
Banha, se veste, pega transporte, trabalha e vai
Enfrentar mais um dia. Sísifo se imagina feliz?
Ele luta pelas coisas que possui
E não lamenta o que perdeu,
Abraça as condições impostas
Na existência e vive da melhor forma.