Você, estranho
Você, das vestes duvidosas
Das histórias calamitosas e fábulas que sangram os ouvidos
Você que vê o espelho como inimigo
E como inimigo todos os outros que não sejam seu reflexo;
Que vive numa linha tenue, entre fantasia e nexo
E pende para os dois lados ao mesmo tempo.
Você, de sobrenome contratempo
Ungido em ansiedade, é bem verdade
Mas compelido a manter seu status
Sua realidade.
Que manufatura paz em tormento
E tormento em inverdade;
Que manipula, chora e degola
Todas as gargantas que cantam
Histórias sobre honestidade;
Amputa as pernas que dançam temerosas;
Fecha os olhos para quem lhe oferta rosas;
Arranca os dentes dos sorrisos fracos;
Faz de um chiado um estardalhaço;
E de um estardalhaço, o fim do mundo.
Você, que enquanto sujo aponta os imundos
E ri dos outros o que lhe faria chorar
Você, que é um pouco mais do que remete;
Impossível de subestimar.
Quem te vê não te esquece,
Não porque é inesquecível,
Mas porque sequer vale a pena memorizar.
Uma mera convenção social:
''Fingir que esta criatura é normal
E evitar cutucá-la com vara de qualquer tamanho''
Um pouco mais do que você merece, é verdade
Mas suficiente para lidar com você,
Estranho.