Você, estranho

Você, das vestes duvidosas

Das histórias calamitosas e fábulas que sangram os ouvidos

Você que vê o espelho como inimigo

E como inimigo todos os outros que não sejam seu reflexo;

Que vive numa linha tenue, entre fantasia e nexo

E pende para os dois lados ao mesmo tempo.

Você, de sobrenome contratempo

Ungido em ansiedade, é bem verdade

Mas compelido a manter seu status

Sua realidade.

Que manufatura paz em tormento

E tormento em inverdade;

Que manipula, chora e degola

Todas as gargantas que cantam

Histórias sobre honestidade;

Amputa as pernas que dançam temerosas;

Fecha os olhos para quem lhe oferta rosas;

Arranca os dentes dos sorrisos fracos;

Faz de um chiado um estardalhaço;

E de um estardalhaço, o fim do mundo.

Você, que enquanto sujo aponta os imundos

E ri dos outros o que lhe faria chorar

Você, que é um pouco mais do que remete;

Impossível de subestimar.

Quem te vê não te esquece,

Não porque é inesquecível,

Mas porque sequer vale a pena memorizar.

Uma mera convenção social:

''Fingir que esta criatura é normal

E evitar cutucá-la com vara de qualquer tamanho''

Um pouco mais do que você merece, é verdade

Mas suficiente para lidar com você,

Estranho.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 28/07/2023
Reeditado em 28/07/2023
Código do texto: T7847980
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