Lataria

Numa noite fria

Amparada pela lataria que lhe transporta

Você leva ambas as mãos ao rosto

Num claro sinal de desgosto

E reflexão tardia.

Você sequer sabia, mesmo que te gritassem;

Que arranhassem a lateral da sua cabeça

E as feridas infeccionassem com a verdade

Mesmo assim, com os sinais expostos

Com interlocutores dispostos a explicar

Com escritas vindouras do céu

E com sinais que vinham de baixo

Nada lhe faria entender, nada bastaria para compreender

A fatídica conclusão que agora te ocorre.

Sua bolsa vinha cheia de metáforas

E outras quinquilharias que garantiam estabilidade

Uma fundação rasa, baseada em inverdades

E outras passagens que garantiam o seu conforto.

Não te olho torto, pois também tive

Minha parcela justa de palpites errados

Vezes que as pernas foram menores que meus passos

E eternizei no asfalto a face do meu fracasso.

Vezes que eu cai e nunca levantei-me completamente

Feridas tratadas que insistem em abrir brevemente

E pulsar com a dor e sensação que eu poderia ter feito diferente.

Que minhas decisões erradas impediram as certas

Que os caminhos trilhados no inferno só existiram

Pois rejeitei todos os transportes que me subiam

E você, dentro da sua lataria, sentada em seu banco

Percebendo que escolheu o veículo

Que te manterá no mesmo plano.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 14/07/2023
Código do texto: T7836598
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