O redesenhar das tatuagens do náufrago
A ilha é sua cela
O mar que a rodeia é a grade
A maior punição é estar longe
Das coisas que originaram
As imagens gravadas em sua pele
Seja na origem da tinta
Ou na origem do desenho
Sem escutar palavras familiares
Longe dos rostos conhecidos
Fora do alcance dos lugares queridos
Impossibilitado de reviver preciosos momentos
Você os vê, resquícios em sua pele
Carregando as memórias em carne viva
Para sua observação e das outras pessoas
Ausência de um norte, não há vento
Não há mapa, não há um propósito
Em forma de tesouro para procurar
Pois seu tesouro fora afastado de ti
Se alia às pessoas, em relação de protocooperação
Elas são lanternas para navegar nas escuridões mais densas
Presentes nos mais ensolarados e quentes dias
Para cooperar, é preciso abandonar
O não do seu vocabulário
O menor sinal, e a suposta frágil aliança
É sujeita à ameaça
De afiada linha de corte
Eles se atrevem
A desenhar por cima
Dos seus desenhos gravados
Em pele
As orações que deveria rezar
Os deuses que deveria adorar
As divindades que deveria reconhecer
Todas elas cobrem e substituem
Os sons e as imagens
Que constituem o seu eu
A ânsia pela sobrevivência
Tirou-lhe o precioso direito da memória
Não há nada para lembrar, revisitar
Reconhecer e nem ao menos
Recriar
Olhando para ti
Não te reconheces mais
És apenas receptáculo
Para o útil e urgente
Porém não para o importante
E memorável
O valioso, agora oculto
Está longe de ser
Recuperável
A cada dia, esquecendo
Da pessoa que você é
Se tornando a pessoa
Que o outro quer
Que você seja