Autocrítica

Das composições de cacofonia que saem da sua boca

Das teorias de muitos passos envoltas em beleza barroca

Da ventania que distorce as palavras, os enredos

Do breve apontar de dedos, mesmo que sem justa causa.

Dos adjetivos inferiores, dos dramas interiores

O eterno medo do que vai e não volta.

Duas mãos dadas que não se soltam

E outros cantos sobre dualidade.

A verdade sequer existe, é figurada

Pintada em tons de cores inexistentes

Que não enxergamos, que não conhecemos

Que sequer podemos criar.

Ela é subjetiva, sensível como carne viva

E muito suscetível a sangrar.

Um diamante bruto pendendo lapidar

Um ego gigante, minimizado, guardado numa caixa

Para não estragar.

Um orgulho, um preconceito

Todas as manias de um sujeito

Que fracassa em se achar

Em meio ao que já foi

Em meio ao que sabe que já existiu

Em meio a multidões que ninguém sabe se já viu

Mas que sabe que estava lá.

Em algum momento, em uma breve passagem

Ilusório e esquivo como uma miragem

Que traz uma gota de esperança

Para quem já vem feito e vestido de arrogância

A sede por si mesmo, saciar.

Minhas fontes secaram.

A fluidez natural não mais existe

Tornei-me sombra de minhas glórias

Que por serem poucas

Me fazem menor ainda.

Falo sobre conquistas, discorro sobre acontecidos

Com a tranquilidade que falo de um filme

E não memórias

Pois quem me representa ali não existe mais

Foi-se com o tempo, reduzido pelo distanciamento

Entre quem ele era e quem se tornou.

E o tornado com a certeza

De que jogará aos ares

Cada pedaço que restou.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 06/07/2023
Código do texto: T7830447
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