A Morte dos Dias
Você sempre tem que lidar com alguma despedida, todos os dias
Um instante marcado pelo ponteiro do relógio
Um número no visor do relógio digital
Uma data no calendário
A luz do sol que se esconde enquanto a lua se levanta
A pessoa ao seu lado
Alguém especial pra você
A pessoa que você um dia já foi
Uma memória que acabou de se consolidar
Um momento de alegria em uma época turbulenta
São despedidas, porém não são partidas eternas
Você pode remarcar um compromisso perdido
Você pode ver os ponteiros rodando no seu relógio, os números se repetirem no visor digital
Você pode voltar a sentir o calor do sol beijar o seu rosto antes dele se pôr novamente
Você pode ver novamente uma pessoa querida, estando ela dentro da sua casa ou longe de você
Você pode tentar recriar um momento, revisitar um lugar bem quisto
E você até mesmo pode tentar se lembrar de como você era, mesmo que você não pretenda mais ser aquela pessoa
Os dias são engolidos pela morte, porém o que você ama fica com você
Tudo aquilo que você ama e te ama de volta, te diz "até logo" ao invés de "adeus"
Isso começa a ruir quando o "adeus" passa a ser uma palavra comum de se ouvir
Dos seus entes queridos
Da capacidade de se lembrar dos bons momentos
Dos lugares queridos
Da pessoa que você verdadeiramente é
Das memórias cultivadas em seu coração
De sentir o sol te tocar
Você pode rezar para Deus, pedir mais tempo
Só que mais tempo não serve de nada
Se a morte já levou tudo que alimenta
Seu coração nesse caminhar do tempo
O ponteiro continua a correr
Os números do visor digital continuam com suas trocas
A areia da ampulheta continua a cair
Mas seu coração, sem um grama de amor
Não tem mais motivos para continuar
Batendo