Da parte que me cabe
Da parte que me cabe
Tony R. M. Rodrigues
São José, SC, 28/06/2023, 14h19
Parte I
Uma parte de mim anda farta
de vitórias e de dificuldades,
outra parte não sabe ser grata
como requerem tuas necessidades.
Uma parte de mim é cansaço
do meu próprio jeito de agir,
outra parte é feita de abraço
e se esconde querendo se abrir.
Uma parte de mim é tão grande
que te acolhe, mesmo que a mandes
não chegar perto demais.
Outra parte de mim eu só sei
que jamais abandonarei:
o meu eu, meus irmãos e meus pais.
Parte II
Uma parte de mim procastina
de que eu me entregue completo
a cada chance matutina
de seguir com o olhar ereto.
Uma parte de mim é alegria
quando me rondas por perto,
outra parte é melancolia
quando vejo que soi incerto.
Uma parte de mim se desfaz
no verso que escrevo, sagaz
é a vida, não meu agora.
Mesmo assim uma parte de mim
pede pausa, mas não o fim
da contagem diária das horas.
Parte III
Uma parte de mim é excesso
que em versos em vão controlo
outra parte é o silêncio que impeço
quando prendo o leitor (sem dolo).
Uma parte de mim é memória
que deseja se reorganizar
pois pretende finalizar
o que não mais cabe na história.
Tantas partes de mim são desejo
mas só uma é que exterioriza
a lágrima, o sorrijo e o beijo:
É com pena e literatura
que a alma se engana e prioriza
o que fazem as criaturas.
Parte IV
E assim me parte, sem que procure,
uma dor que não tem nome, só escombro
e ela se apoio neste meu ombro
mesmo que algo bom venha e me cure,
pois a cura não dura um suspiro
em meio à ansiosa e ofegante
razão irracional que os instantes
multiplicam enquanto respiro.
Não, o papel nem tudo aceita,
não se engane quem ora me lê,
pois nem tudo a gente vê
por meio da palavra eleita,
e às vezes são de ruídos
que se faz um mal entendido.
Parte V
É ruída a dor que rói
no peito de todo herói:
corrói-lhe com fogo e chagas
onde havia o jogo e as sagas,
é quando o herói, no volante,
percebe-se também viajante
e decide acionar o freio
sem parar sua carga e o passeio.
Uma parte de mim é verdade
e a outra é esquecimento
de que me mata a ansiedade
quando renasço com o vento,
não o que leva cidades,
mas o que refresca momentos.