Profundo Lugar

Talvez seja eu e não a história que esteja em transe.

Talvez seja eu que esteja embriagada de vida

e me recuse a morrer no caminho do tempo.

 

Não vivo aleatoriedades, não busco superficialidades.

Trago quimeras que desencadeiam sonhos

e, desses, teço um ninho em meu peito

que sobrevive da modernidade do aço.

 

Quem sabe seja eu o observador do jardim sendo observado,

ou sou eu quem deva ser... observado pelo mundo,

pela ciência, pelo modus de ser e agir

diante das intempéries do corpo e da mente.

 

Sou eu a máquina sobre o tampo da mesa,

cujas pernas mortais ainda desfilam passos nos paralelepípedos da vida.

E essa dor n'alma, de onde veio ou nasceu se um ciborgue não a pode sentir? 

Minhas emoções estão conectadas a uma máquina de um outro mundo?

De um outro tempo?

Um dia serei desligada do frêmito da vida

e religada à eternidade de estar mortificado e vazio?

Poderia eu decidir minha história?

Ou só o passado é da minha alçada - só nele posso viver?

 

Questionamentos me levam à profundas reflexões sobre o sentido de tudo.

Também do enfrentamento dessas contradições que me torneiam a alma

e fazem a necessidade vital do pensamento sobre o ser ou não-ser.

 

Já decidiram por mim o não-ser.

Por isso, por bailar na contradição do que foi posto

e me rebelar em busca de um caminho de solitude em mim...

talvez, talvez, seja eu e não a história que esteja em transe...

E minha embriagues de vida seja um confronto

a quem já decidiu o que eu não posso viver.

 

Mas uma coisa eu posso e sei:

não vivo aleatoriedades,

não busco superficialidades.

Mergulho fundo em mim mesma

e à superfície não quero - não mais - jamais voltar...