Abafado

Me veio de repente uma vontade de chorar

Engoli, como sempre, reprezando esse mar

Tudo preso e bem guardado sem ninguém chatear

E me veio então uma vontade de gritar

Engoli, como sempre, abafando esse cantar

Tudo preso e bem guardado sem ninguém magoar

E senti dentro de mim a implosão começar

Engoli e senti tudo me arrasar

Me chateei, me magoei e percebi que nada estava guardado,

apenas abafado para o meu desesperar

E me veio discretamente uma vontade de dançar

Engoli, me abracei acolhendo o balançar

Mas senti que meu corpo não iria suportar

Chorei, gritei, dancei, cantei...

Soltei tudo ao vento para me esvaziar

Libertar-me do mar que me afogava,

da mão na boca que me calava e do medo que me assolava

Fica então um vazio...

Não! Ficam a vida, a sede e a voz do meu Libertar.

Dani Gato