Hoje é o Dia Que Tento Viver
Eu pareço homem de constante alegria,
Mas há momentos que me sinto
Como o melancólico Cornell.
Há dias que são ofuscados
Pelo sol do buraco negro,
Calor escaldante, céu morto,
Os tempos são sequestrados por
Torpes serpentes, apagamento de brilho,
Instante propenso aos desânimos.
Apesar das dificuldades,
Das navalhas que fazem cabeças rolarem,
Hoje é o dia que tento viver,
Encontrar caminho fora do traçado da morte.
Mais uma vez por aqui, lutando contra porcos,
Não irei chafurdar na lama.
E faço a liturgia de assumir
As próprias escolhas.
Semeio com parcimônia
Os prazeres,
Expando as virtudes,
Pratico os talentos intelectuais.
Busco o bem coletivo,
Defendo causas mesmo
Que pareçam impossíveis.
Zelo pelo equilíbrio familiar,
Na culinária das relações humanas
Cozinho com amor suculentos
Pratos dedicados aos amigos.
Combato a cantiga dos opressores,
Castigo os que são traidores,
Não há leveza ou misericórdia
Com os que se revestem de sombra ruim.
O resto é mero movimento
Protocolar da vida, apenas labuta.
A felicidade, pura necessidade,
É criação lenta a ser conquistada
Nas mãos do não resignado,
O que não aceita
As migalhas impostas pelo cotidiano.