Sal
Calma, calma
O dia vai embora
Assim que a noite chegar
Tem medo não
Tem medo não
Não vai afogar
Não vai afogar
Vamos fingir,
vamos fingir que as gotas são
criaturas da poesia
A magia do mundo
Brincando com chocalho de areia
E não coração em pedaços
Vamos fingir que o abraço já vem
Tem dias que são como navegar
Tem dias que são longos
Como o olhar da chuva
No vidro do carro
que se busca ar e não tem
que nem na vez em que virou o caiaque
E eu me afoguei
E eu fiquei uns segundos ali
Que mais pareciam anos
calmo
E quando então alguém me puxou de volta
Parecia que tinha me devolvido a vida
Não sei se gostei
Sei que chorei
Fiquei com vergonha,
o sal dói os olhos, sabe?
E o rosto fica feio quando eu choro
Mas apesar do susto
sonho com aquela paz de novo
No abraço que nunca tive
Não pude ficar muito tempo
Dizem que se ficar demais embaixo d'água
Que se faltar oxigênio na hora do nascer
O pulmão se afoga
O bebê malforma
Quem sabe outra vez
Quem sabe outra vez