ternos de vidro no armário
o passaporte cheio de países que
nunca vi
o que será agora?
depois da festa
depois da noite fria
depois da zombaria
apagam as luzes de nossas agonias
e o cheiro do perfume continua pela
casa
somos estrelas em queda-livre
somos caixões fechados
somos protestos de amor
somos versos mal interpretados
o que será agora?
quando o corpo mofado precisar se levantar
o que será agora?
quando o portão não existe, mas a chave
está em suas mãos
e você quer sair
e você quer ver o mundo tingido de vermelho
não mais vivo
e você quer fazer lembranças para amanhã
e você quer aproveitar que o mar não secou
e você quer cagar sem se limpar
e você quer ver Deus,
mas não vê a si mesmo
mas não vê quem atropela
mas não vê quem grita ao seu lado
mas não vê quem grita a sua frente
mas não vê quem gritou seu nome
nas paredes que você derrubou
durante anos piscando os olhos
ao chão que mais ninguém pisou
e você
e você
e você
agitado
cansado
inquieto
jamais ouviu a própria voz.