Não existem dívidas e se pagar.
Não há nada a pesar, medir, medrar.
Areias perdidas, perdidas estão.
Não há mais como voltar um grão que seja
para o lado de cima de nossa ampulheta do tempo.
O que caiu, caiu... O que ficou, ficou...
E, os grãos de areia que restam no módulo do tempo
caem um a um, num ritmo certo e espaçado,
sem falhas e sem paragens para descanso.
E não há como medir as perdas,
nem o aumento das dunas na vidraça translúcida...
Os grãos de areias perdidos seguem caindo
e vão se perdendo (e ao tempo) a cada segundo...
Um a mais atravessando o portal da vida
é um a menos para vivermos e aos nossos sonhos.
Não temos noção do tempo que resta.
Não há senso que possa isso prever.
Eu sei que tenho este instante Agora.
E esse saber não muda o conhecimento
que você tem sobre a mesma hora do tempo
nem o conhecimento que o mundo dele possui.
Nem mesmo a forma como vamos vivê-lo...
O tempo é relativo para cada um.
Para mim, um dia são cem anos.
Então envelheci centenas e centenas de anos
desde que o Senhor das Portas
as bateu com força ao meu lado.
E, por isso, carrego milhões de horas do tempo
em meus costados já cansados
e pedintes do último adormecer.
E que venha vestido de eternidades...
De fato não basta saber, pensar,
ocultar o que se sabe, o que se sente...
Nem ficar de plantão diante da porta de cedro
aguardando mais um repentino de luz
que possa surgir na fresta de escuridão
que a mão iluminou ou possa vir a iluminar, mais um pouco,
entre o abrir, entrar, sair e fechar (sem nem para trás olhar)
deixando, sozinho, o que dentro ficou...
E a vida de um Sol
que tem tudo para viver sua própria luz
(que lhe mora dentro o peito)
fica como ele mesmo reconhece e diz:
nas lembranças de imagens sem tempo,
de desenhos da lua escondida de todos, do mundo,
num baú de carcalhas de folhas secas caídas ao chão
que foram, a cada hora do tempo, perdendo sua cor e fulgor.
E hoje já não brilham mais como ontem...
Dançam sem vento, sem cor...
num chão que carrega
pro lado escondido e silenciosos da vida
o que há de mais precioso em seu coração: o amor.
Sim, não houve velório de lágrimas,
foi um momento de solidão... foi bem só...
mesmo o olhar vendo a face caída
sobre o tampo da mesa... não recuou...
Mas não há o que remediar o que já foi...
Também não se abona o tempo que passou
com uma lágrima que escorra pela face de amor.
Sem lástimas, Maria!
Sem lástimas!
O mundo é o que é.
É o real que se antepõe ao sonho.
Que diz com todas as letras o que foi,
o que é e o que não será...
Então sem lástimas Maria!
Sem lástimas.
Faça igual ao contrário do rei...
Desfilou, cabeça erguida,
sem para a flor um olhar,
pelo corredor à frente do tempo
que ia passando :
feche o portal de lágrimas
e abra a muralha de saudades!
Faça: sem lástimas.
Dance! Mesmo a dança sem vento!
Ela com certeza te leva para algum lugar
nem que seja para ninguém ou para lugar nenhum...
Vá! Dance!
Mesmo a dor agrura!
Viva! Dance!
Conquiste a si mesma!
Sem chorar!