Abraço, poesia
Quando me abri para a poesia não esperava tamanho acolhimento, continuo me surpreendendo.
Já não sei mais sobre o que escrever, talvez eu já tenha dito tanto ao mundo que não consigo mais dizer nada, meus pulmões estão cheios e os sinto vazios.
Me abraço às metáforas que ainda permanecem intocadas, tudo aquilo que não é dito todos os dias me segura numa loucura entre a transparência e a necessidade da boa vista, para o outro.
Outro que me escuta, me vê.
O medo irracional de atravessar a avenida da vulnerabilidade sempre me paralisou, me fez fraca, a ilusão da autossuficiência, confundida com autonomia, me trouxe até aqui.
Ao menos minha poesia pode ser confusa, mas a minha confusão nem sempre pode ser poética.
Eu não sei como é viver por mais ninguém além de mim, mas eu imagino que seja tão difícil quanto, não é possível que minhas loucuras internas sejam só minhas e, ainda assim, como dizer as primeiras palavras?
Parece que fiz muito, mas nada fiz, meu eu passado ainda cobra tudo o que fingiu ser apagado da memória e o meu interior vive encharcado de palavras.
Vivo transbordando o que não é dito.