Quando saudade
Chamo por você
Quando tudo o que me toca
Dói e vira saudade
Vejo os teus cabelos
de plumas brancas
cheiro de céu
que adoça o toque na pele da alma
Tuas mãos macias, de pele fina
o desenho do teu corpo que trago, pra sempre, na memória
vagando na lembrança do teu colo quente
e daquele amor imenso
que atravessa todos os tempos
Tua roupa que me vestia de aconchego
no frio da nossa casa de tijolo, de barro, nascentes, redes e alpendres
Teus olhos, cerrados
enxergando o mais sensível através do invisível
quando os candeeiros se apagavam e ouvíamos aquelas canções que cantávamos
com os sorrisos largos e os tons graves e sonoros dos teus antepassados
cravados em nós
na tua voz
e na pureza daquelas canções
Ainda grito por você
que agora, voa distante
lá da pedra do monte,
na fogueira do alto da serra,
Sentada, sangrando
enquanto flutuo…
assistindo o espetáculo dissonante da vida
e daquela neblina
que cobre as cidades, as matas
os pequenos raios de luz que saltam dos dos mapas,
dos sonhos
e dos teus abraços
Chamo por você
e canto
Enquanto danço na chuva
ou enquanto tropeço, de novo,
e me vejo como asas feridas, imperfeitas
que passeiam pelos céus desse planeta
entre sombras e estrelas
Desejando o nosso reencontro
onde o tempo chega
pra refazer todos aqueles sonhos sagrados
que um dia imaginamos
e que ainda desejamos
Chamo a tua sabedoria
que existe em mim,
em nós
Enquanto caminho no escuro
subindo os degraus, pisando nas nuvens
sentindo a terra molhada
com os pés descalços, feridos,
a pele nua
cheiro de mato,
de mangue
e dos belos montes
Chamo a tua voz
quando encontro nas músicas que ouço
e em cada lembrança
de quando amanhecíamos
pra te ver sorrir
e cantávamos pra te fazer dormir
Te encontro
na tua luz
que segue pairando no ar
sussurrando em cada nascer
no universo
Pelas terras mais sagradas
e distantes
que busco, aqui dentro,
no silêncio…
e em tudo o que vemos
quando fechamos os olhos
e apagamos todas as luzes.