Pela fresta

Por que dessa angústia em alforriar os segredos?

Estão bem guardados, seguros por trás da muralha

Mas essa erupção! Ah, essa erupção,

lavas queimando a alma em

valentia de libertação

Mas não há ouvidos... não há

O papel, esse papel de mentira da tela,

não ouve de verdade,

Não ouve, é verdade

Como consolo, permite uma tímida fresta,

passagem para um pouco de mim se vestir de palavras,

essas roupas comportadas, diferentes da nudez

dos sentidos, dos desejos, de convivências desbotadas,

da falta de sentido, desejo apagado e vida adormecida

O papel de mentira me escuta sem ouvidos

Palavras pela fresta que falam para si mesmas

Dou a última golada no café frio e sigo aqui

fora da caverna ou dentro dela

Os segredos continuam seguros

e a vida ainda dorme.

Osvaldo Júnior
Enviado por Osvaldo Júnior em 23/04/2023
Código do texto: T7770774
Classificação de conteúdo: seguro