Pela fresta
Por que dessa angústia em alforriar os segredos?
Estão bem guardados, seguros por trás da muralha
Mas essa erupção! Ah, essa erupção,
lavas queimando a alma em
valentia de libertação
Mas não há ouvidos... não há
O papel, esse papel de mentira da tela,
não ouve de verdade,
Não ouve, é verdade
Como consolo, permite uma tímida fresta,
passagem para um pouco de mim se vestir de palavras,
essas roupas comportadas, diferentes da nudez
dos sentidos, dos desejos, de convivências desbotadas,
da falta de sentido, desejo apagado e vida adormecida
O papel de mentira me escuta sem ouvidos
Palavras pela fresta que falam para si mesmas
Dou a última golada no café frio e sigo aqui
fora da caverna ou dentro dela
Os segredos continuam seguros
e a vida ainda dorme.