A lembrança de jardins distantes.

Sobe

lá no alto

Da melhor lembrança

Que tiver da vida

Mira-te

No mais claro e cristalino espelho

Busca calmamente

E responde a justa verdade

Pra teu coração somente

Enquanto a verdade é ainda oculta

Busca

Como no acalmar da lua

Quando a lua

Encara o mar sereno

Com o seu mais puro e pleno olhar

Se acaso desencontrar

Sobe mais no alto ainda

Relembra como era linda

A esperança

De uma hora poder ir até lá

No alto da melhor lembrança

E encontrar somente

Espelhos claros

Pra teu coração poder se olhar

Num difícil e mero olhar sincero

As flores partem junto à primavera

Impossível é negar-te eternamente

Pois a vida não é como o mundo a vê

O mundo é como a vida o vê

E nenhum dos dois é dono da razão

Diferente é a busca

Então

Se em algum momento

Não consegues mais admirar-te

E se vir somente

Olhos vermelhos de um tristonho olhar

Desça

Retome o caminho

E o refaça

Enquanto existe em ti

Ainda um traço de esperança

De modo a não guardar apenas

A lembrança de jardins distantes

Pequenas flores que sequer colheste

Percebe agora que viveste

Porém

Sem a graça da vida

Constantemente oculta

Dentro de você

Que nenhum caminho te mostrou

Há uma semente seca e morta

Escondida no mirar

O olhar que teu olhar não olha

Uma flor que teu chover não molha

O nome dela é alegria

E que apesar de morta

Morre e morre novamente

Todo dia.

Edson Ricardo Paiva.