Vida
Sempre serei um estrangeiro em qualquer lugar.
Sempre serei um visitante da vida em todos os dias.
Não tenho classe, não tenho pose, nem poder.
E diante de tudo isso sou um desconhecido.
Sou aquele que sempre chega e nunca chegou.
E as amizades são refeitas todos os dias,
Dias que terminam antes da hora do seu fim,
E já se inicia um novo dia, calendário, sem histórias.
Dias sem ontem, dias sem amanhã.
Só o hoje respira e reina somente.
E as portas se fecham, e as janelas as imitam.
E o homem, eu, sem origem, sem destino,
Reentro pela porta que se me abre
E me nasço de mim mesmo em outro lugar,
O mesmo lugar que agora me acolhe.
E não há lembranças do ontem, nem projetos
Para o amanhã. Qual amanhã? Onde?
E os meus já não são os mesmos.
Outros meus agora fazem parte de mim,
Desse viajante peregrino, estrangeiro,
Andeiro de caminhos que se transformam
Em outros caminhos misteriosos que
Sempre levam a um lugar desconhecido,
Onde eu sou o desconhecido de cada dia.
E nunca eu sou eu na nova paisagem
Mas sempre existo pra mim mesmo,
Mesmo sem ser conhecido ou notado
No caminhar do tempo sempre esgotado.
Esse tempo que nunca me pertence,
Tempo de guerras, opressões, violências,
Tempos de dor, angústias e mortes,
Onde a vida se vai sem despedida
E os mortos são estatísticas vivas
Dos descasos que se desfazem da vida.
E às vezes até parece que eu sou a vida
Desprezada por onde nunca houve vida!