isso aí vai durar mais do que uma noite
encarando os buracos do céu
encarando as nuvens paradas
encarando os rostos passados
encarando os caminhos cruzados
encarando os amores acabados
encarando as amizades indispostas
encarando as esquinas sujas
encarando as garrafas jogadas no chão
encarando as guimbas de câncer
encarando os copos vazios
encarando os santos pecadores
encarando os verbos ditos
encarando os afogamentos arrependidos
encarando a música não aproveitada que passa
bem à nossa frente
encarando o equilibrista da meia noite
tropeçando em quem não devia
encarando a encruzilhada que guarda nossa
vida
encarando o relógio da Central do Brasil
encarando as plantas nascendo no meio do concreto
encarando os cachorros abandonados fazendo companhia
aos humanos abandonados;
até onde tudo isso vai?
até quando continuaremos?
os sonhos nunca realizados
os erros nunca apagados,
convividos diariamente entre sorrisos,
entre gritos escondidos, entre perguntas
feitas nas madrugadas
que nunca teremos resposta,
mas mesmo assim fazemos.
mas mesmo assim fazemos.