tudo de novo
tudo de novo?
o inferno de outro mundo;
o inferno de um mundo anterior,
tudo de novo
a mesma vida
a mesma sina
as mesmas paixões
as mesmas razões
os mesmos amigos
os mesmos perigos
tudo de novo?
tudo de novo.
se olhe no espelho, criança,
e as constelações em seu rosto
dirão quantas vidas você viveu,
e as guerras virão sempre para
o bem de alguma nação.
tudo de novo
grita a boca do teu estômago
tudo de novo
pálida como o véu que cobre
as madrugadas do outono
tudo de novo
seus olhos despejam as sementes
de frutos que você sequer colherá
tudo de novo
as músicas do dia a dia queimam
na carne infinita
até o acordar deste sonho.
se olhe no espelho, criança,
e perceba o céu refletido
nos olhos que já foram inocentes.
quantas horas ainda virão?
quantas palavras nascerão
neste imenso lago que você
não desiste de se afogar?
quantas perguntas até você
finalmente
se sentir satisfeito?
e tudo de novo
finalmente,
porque uma vez nunca será
o bastante,
como o sol também se levanta
todos os dias.