CANTIGA DO LUGAR NENHUM (ODE A IRACEMA)
(Para Martim e Iracema)
Diante da noite o espanto
As névoas clareiam o breu do espaço
Que nem precisava de luz
O caminhante anda às cegas
Sem medo do abismo grande
Sem pensar em retorno
Gracena cantava
Entoava seu canto mudo de jandaia falante
E o trinado fez desfolhar as árvores
E parir seus brotos
Feito restolho de galho morto
Diante da noite o espanto
E o assalto, fulgor dos dias brancos
Diante da noite o encanto
Gracena chora por não saber nascer feito lua
E do filho novo que deixará no mundo
Diante dela a noite se espantou
Por Gracena e seu canto que nunca existiu
Mas que assombra feito gente no escuro fingindo que é bicho
Gracena canta seu mel, doce encanto
E chora um pranto que nunca molhou sua face
Mas que serenou em águas de copioso pranto
2403232146