Outonando

Outonando

Delasnieve Daspet

.

O sol se pôs.

A noite chega mais fria. Mais escura.

O céu, com poucas estrelas, espera a lua.

Na escura noite – o luar prateia a colcha

De folhas que cobre a relva.

Na praça os pássaros e o boêmio sabiá, cantam.

E no meu tempo, tempo de passagem,

Alimento as estações.

Deixo que, nos espinhos, os momentos

Se tornem indeléveis fragmentos.

Não quero que a flor morra no meu outono;

Que permaneça, em sua haste, a sorrir.

Eu, também, sorrio...

Já não olho o mundo como um casmurro.

E a poesia tem carne e osso em corpo de livro,

Sementes de palavras que desafiam o etéreo;

Acordam o vazio. O delírio.

Sinto no ventre o mistério...

22.03.23